Mesmo diante de uma crise mundial, o mercado gamer corre contra a correnteza
Ramon Nunes
Fonte: canaltech
em: 11/02/2021
À medida que a quarentena se alonga, manter as pessoas em casa tem
significado cada vez mais um motivo de preocupação para os negócios da maior
parte das indústrias. Mas não para todas. Com estimativas de crescimento acima
dos 10% para a América Latina, o mercado de jogos eletrônicos é um exemplo de
quem saiu de 2020 bem longe de qualquer tipo de crise. Aliás, muito ao
contrário.
Movimentando bilhões de dólares anualmente, o segmento gamer tem
crescido de forma sólida há anos, expandindo seu ecossistema de forma
consistente — vale lembrar que essa indústria, além dos jogos, envolve uma
cadeia enorme de profissionais, indo dos desenvolvedores de jogos aos
fabricantes de equipamentos e acessórios, e passando por jogadores
profissionais e amadores, entusiastas, influenciadores, narradores, streamers e
muito mais. Ainda assim, a verdade é que 2020 trouxe um impulso impossível de
ser desconsiderado nesse cenário: o isolamento social.
Segundo relatório da consultoria chinesa Tencent, cerca de 2,7 bilhões
de novos jogadores foram atraídos a este mercado no último ano, com a maioria
entrando no segmento após o início das medidas restritivas. Eles foram
conquistados, basicamente, por uma indústria que não para de se reinventar e
que – como poucas – já sabia lidar bem com alguns elementos digitais que foi
apresentado para muitos apenas agora, como as reuniões on-line, shows virtuais,
por exemplo.
Jogos mobile viram febre Imagem: radioimprensa |
Não por acaso, portanto, estamos falando de um setor em evidente
expansão, que mesmo diante da pandemia pode se manter firme em seu ritmo de
crescimento robusto em todo o globo. A mesma análise vale, no caso, para o
Brasil, onde estimativas indicam faturamento superior a US$ 1,5 bilhão, além do
incremento de quase 10 milhões de novos jogadores à área e o brutal crescimento
no número de horas de conexão à Internet.
Evidentemente, a necessidade de ficar em casa se transformou em um
facilitador para a alavancagem do mercado gamer, mesmo diante das oscilações
impostas pela pandemia. Ainda assim, o fato é que apenas um segmento com valor
agregado poderia alcançar tal feito. Em tempos de redução nos custos, os gamers
apareceram como uma opção de qualidade, entre outras coisas, para entregar
entretenimento e dinâmica à vida das pessoas.
Isso não quer dizer, contudo, que a indústria não teve de se adaptar ou
mudar rotas por conta da crise instalada pela COVID-19. A chegada deste ‘novo
público’ trouxe à tona, também, novos hábitos, expectativas e demandas a serem
atendidas por todos os agentes do ecossistema gamer do Brasil. Nesse sentido, a
própria indústria tem participado de um processo de expansão de suas
fronteiras. Como exemplo, podemos destacar as ações de divulgação de conteúdos
que incentivam novatos a seguirem carreira na área, apresentando diferentes
oportunidades, caminhos e como se tornar um profissional destas diferentes
posições.
Outra dessas mudanças, sem dúvida, é o fortalecimento de consumidores
“multitarefas”. Hoje, é muito mais fácil encontrar pessoas que dividem seus
equipamentos, por exemplo, entre o dia a dia de suas profissões e a paixão
pelos jogos. Em um ambiente cada vez mais híbrido, em que casa e trabalho estão
mais ligados do que nunca, essa é uma característica que não podemos descartar.
O que não muda, independentemente desse jogador ser mais casual ou
profissional, é a exigência contínua por alta performance. Seja para o trabalho
ou para o game, ter desempenho acima da média é um requisito-chave para quem
deseja avançar nesse segmento.
Isso vale para qualquer plataforma ou device, embora seja ainda mais
perceptível no segmento de PCs. Os notebooks são cada vez mais procurados para
suprir as demandas dos jogadores atuais, justamente por agregar mobilidade à
capacidade do jogo.
O perfil do gamer é a cada dia mais variado, e – por isso mesmo - a
expansão do cenário gamer não se reduz apenas aos jogos em si. Por exemplo:
também tem crescido a divulgação de competições e as transmissões (na TV). De
acordo com um levantamento nos Estados Unidos, a audiência de partidas virtuais
via streaming aumentou mais de 30%, após o início da quarentena. Além disso, o
número de views das apresentações relacionadas ao cenário gamer no YouTube
também dispararam nos últimos meses, atingindo casas inimagináveis.
Esse é, portanto, um consumidor multitarefa e multitela, que busca
entretenimento e desempenho de forma concomitante. Essa é, afinal, a grande
notícia aqui: os jogadores brasileiros continuam a querer o melhor e os jogos
são, sim, uma nova ferramenta para gerar lazer e diversão das pessoas. Esse é o
papel dos jogos hoje, seja no PC, no console, na TV, ou no celular – estar
junto dos jogadores e expandir fronteiras.
A ideia é parar em frente à tela e jogar, dando vida a personagens e
situações muito mais dinâmicas do que podemos esperar da vida real – sobretudo
agora, em tempos de pandemia. Mérito da indústria de jogos e das tecnologias
presentes nos computadores que nos permitem, hoje, simular mundos inteiros a
partir de poucos botões.
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